Amigos e irmãos na canção religiosa,
Saudações em Cristo!
O meu assunto com vocês é o trabalho musical num ano de eleições.
Para muitos, especialmente na canção popular, um ano político é sempre sinal de muito trabalho. E para nós, na canção religiosa?
Quem têm uma posição política clara e aberta, com certeza não vai encontrar problema nenhum. Por outro lado, para aqueles que desejam apenas fazer uma canção de fé, em muitos momentos vão ser confundidos com este ou aquele partido. Ser confundido com um determinado partido não é nada. Duro é ser patrulhado. De uma hora para outra você passa a ser cobrado como era Jesus em seu tempo. Você lembra dos Zelotas? Muitos desejavam que Jesus libertasse a Palestina do julgo Romano e apenas. Não entendiam que a sua mensagem de libertação era muito mais ampla e muito mais profunda. Passaram-se mais de dois mil anos e a história se repete em todos nós. Quem abraça uma mensagem de fé, abraça uma vocação transcendental. A mensagem pode ser para o hoje e o agora, mas a colheta não é um privilégio apenas de quem a semeia. Esta é a diferença de quem canta uma canção comprometida e de quem canta apenas para diversão.
Fazer canção religiosa é um compromisso de quem a faz por vocação e, acima de tudo, de quem canta por formação. O duro da patrulha é você ser confundido com coisas que não conhece e nunca ouviu falar. Eu lembro dos primeiros discos que gravei no começo dos anos 80 e foi uma barra. Por causa de algumas canções que gravei e que, aliás, nem eram de minha autoria ("A Verdade Vos Libertará" - Pe. Zezinho, scj; "América Latina" - Pe. Ivo Fachini e eu; "João Batista" - Alberto Luís e muitas outras) fui taxado de comunista e subversivo, inclusive por alguns padres.
Vejam vocês. O que um jovem recém chegado do sertão da Bahia entendia a não ser apenas de sua própria fome e abandono? Portanto, quando eu cantava uma canção e me identificava com a sua letra, era apenas uma identificação de quem se encontrava também dentro daquele texto. Aliás, o que me chamava atenção naquela época era o fato dos comunistas estarem ligados a toda e qualquer luta por justiça social. Se era a igreja que tratava deste tema, era uma igreja comunista, se era um sindicato, era um sindicato comunista e assim por diante. Que privilégio, heim? Os comunistas são a mais pura tradução das lutas sociais e ninguém mais. Não é bem assim. No cristianismo, uma luta social está ligada principalmente a um despertar para a solidariedade e uma efetiva comunhão com a dignidade humana que em Cristo se revela pela sua misericórdia e pela sua capacidade de perdoar. Em Cristo, todos são acolhidos. De modo particular, o meu viver é Cristo. É nele que encontro forças para transcender todas as incompreenções e continuar a missão.
Este pequeno recado que estou escrevendo é apenas uma das reflexões que iremos fazer no transcorrer deste ano tão importante para a vida dos brasileiros. A participação política é dever de todos nós. Existem aqueles que se engajam nos partidos e dão suas contribuições de forma clara e objetiva ao país e existem aqueles que fazem de suas vidas um ideal de servir através da música, mesmo que em muitos momentos seja confundido. Que bom! Afinal, eles não estarão alheios aos acontecimentos sociais.
Aquela paz!