Algumas pessoas já me perguntaram quando foi a minha conversão. Acho que é uma pergunta bem comum hoje em dia, tenho visto muita gente apontando um momento especifico onde sentiu o toque e o chamado de Deus. Comigo por mais que pense em diversas ocasiões, tão lindas e marcantes, não consigo imaginar uma em que eu dissesse que claramente começa ali minha conversão. Sempre respondo dizendo que a minha conversão também faz parte da conversão de muitas pessoas pois acredito que tudo começou quando nasci.
Eu nasci com uma deficiência física. Eu não tinha o fêmur direito. Ainda bebê dava pra perceber claramente que uma perna movimentava-se com naturalidade e a outra permanecia imóvel. Minha mãe ficou bastante assustada. Naquela época não havia exames como ultra-sonografia, nem as grandes campanhas publicitárias para esclarecer sobre os portadores de deficiência. Ela era muito jovem e a surpresa foi muito grande. Tenho certeza que, além do medo e insegurança sobre como seu filho iria se desenvolver e crescer, havia a culpa de ter errado de alguma forma. Não houve culpados.
"Para quem iremos se só Tu tens palavras de vida eterna?", perguntou o apóstolo. Assim foi comigo e minha família. As perguntas eram por demais profundas e existenciais e só a fé poderia respondê-las. Fiz cinco cirurgias, a primeira delas com três anos e meio, e permaneci em no pós-operatório engessado da ponta dos pés até o tórax, de três a seis meses. Cheguei a repetir um ano no colégio, pois quando estava "no gesso" tinha que ficar deitado e não conseguia freqüentar as aulas. Eu lia bastante, via muita televisão e pensava um bocado também. Por que? Por que eu?
Crescendo com uma deficiência bastante visível e que me trazia muitas limitações, particularmente por conta das muletas, naturalmente cresci cheio de interrogações, mas acima de tudo, perplexo. Esta perplexidade diante do mistério da vida ascendeu em mim a fé. Deus sempre esteve em meus diálogos internos na busca de resposta para o sofrimento, solidão, preconceito e frustração. Durante muito tempo eu me senti uma pessoa "faltando um pedaço", inacabada. Deus falava comigo no meio desse sentimento e me ensinava também. Vivi diferentes momentos: no início buscava autonomia e não queria depender de ninguém. Depois fui descobrindo que todos, deficientes ou não, dependemos uns dos outros. E que é bom que sejamos assim pois "que sejam um", ensina o Cristo.
Infelizmente não sou um sábio. Acho que ainda não aprendi muito com o que eu tenho de menos e nem sempre dou a verdadeira importância àquilo que tenho "a mais". Tenho vivido diante do mistério de Deus que nos envolve e sustenta nossa frágil existência. Um vez eu disse para minha namorada que se Deus sempre faz bem todas as coisas, comigo também era assim. E me surpreendi descobrindo um dom tão precioso e belo, difícil mesmo de carregar, mas fonte de vida para muitos.
Deus é Amor.
Augusto Cezar - DOM
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Rio de Janeiro-RJ