Aquele a quem Deus dá o talento para unir palavras e melodias e, na estética da canção, transformá-las em recursos da pedagogia, tem uma missão muito especial. Ele é pregador, catequista, e, se preciso, agitador social; é místico, mas é sempre um colaborador de todos os irmãos cuja missão é anunciar o Evangelho.
O compositor cristão tem, portanto, a tarefa de oferecer subsídios literários e musicais a todos os pregadores a fim de melhorar o culto, dar vida às celebrações e a todas as outras manifestações da Igreja: procissões, catequeses, encontros, programações de rádio e de televisão.
O compositor religioso é, também, alguém que oferece subsídios para que suas igrejas possam evangelizar melhor. Mas ele é apenas o que é: um compositor religioso. Não pode se deixar endeusar e não pode se considerar mais pregador do que os outros. Se seu canto der certo, certamente vai aparecer. Ao se destacar por causa de suas canções poderá receber tributos especiais e até um tipo de veneração, mas cabe a ele saber se colocar no seu devido lugar com sua profecia. Ele é apenas alguém que oferece subsídio. Se o holofote o cegar, corre um grande risco de aparecer mais do que a Igreja e o Senhor Jesus, por mais que diga que não quer aquilo.
Que ele nunca se esqueça que está a serviço dos párocos, dos pregadores e de todos aqueles que anunciam a palavra de Deus naquela igreja local.
A partir do momento que a fama lhe subir à cabeça e ele achar que, por saber juntar palavra e música, é mais leigo ou padre do que os outros, entendeu mal a sua missão. O compositor religioso é um oferecedor de subsídios, um catequista diferente, mas nem por isso é mais do que quem quer que seja.
Num país que endeusa quem faz música e quem faz arte é preciso tomar cuidado para que o compositor religioso não siga a mesma trilha. Uma coisa é ficar famoso e conhecido por causa de algumas canções ou um jeito de catar a fé; outra coisa é aceitar os mesmos papéis dos astros, tipo Xuxa, Frank Sinatra, Elvis Presley ou Michael Jackson. Falo aos jovens de agora e aos seminaristas que já dizem que, se forem padres, querem ser famosos. Todo compositor tome esse cuidado, de ser simples dentro e fora do palco, dentro e fora de sua música. Cantar sobre Deus e para Deus requer outro tipo de atitude. Se a canção nos impedir de nos misturarmos ao povo, tornou-se maior do que deveria, em nós e na Igreja! Acho que depois de 36 anos posso dizer isso. Nunca abri mão dessa liberdade. Posso estar errado, mas estou falando do que vivi e vivo. Que os holofotes não nos separem da platéia...
Pe. Zezinho, scj (pezscj@uol.com.br)
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