Existe uma canção que celebra o mundo; aborda todos os aspectos da vida e tem um jeito característico, ritmos característicos, que expressam um jeito de caminhar e ser no mundo. Pode celebrar o amor, a paixão, a festa, o trabalho, o ódio, a raiva, a dor, o desespero, a dor de cotovelo.
Pode celebrar um exército vitorioso, pode lembrar a derrota, pode celebrar amores perdidos, pode celebrar o erotismo e o sexo. Estamos falando da canção profana.
O ser humano canta tudo o que ele puder cantar e de tudo ele tira um proveito. Entre as maneiras de expressar-se está a canção. É errado pensar que a Igreja seja contra todas as canções profanas. Quem pensa assim e proclama isto nas suas igrejas, proclama errado. Existem canções profanas que nos levam a Deus, tanto quanto as canções religiosas. No Brasil há milhares de canções profanas que nos conduzem a Deus:
"Amigo é coisa prá se guardar debaixo de sete chaves...", "... Não há, ó gente, ó não, luar como este do sertão...", "... Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira no sertão... Eu perguntei ao Deus do céu porque tamanha judiação...", "... A estrela D'Alva no céu desponta e a lua anda tão tonta de tamanho esplendor...". "À minha volta sinfonia de pardais... a majestade o sabiá".
Há inúmeras canções populares, inclusive as que se cantavam e cantam nas passarelas de carnaval, que acabam nos levando a Deus. Seria um erro qualquer cristão proclamar que as canções profanas são do demônio. Seguramente não são. Milhares de canções profanas já levaram pessoas ao perdão, à misericórdia, às lágrimas, ao choro e a Deus. Acabaram levando ao religioso e também foram e são instrumentos de conversão, de elevação da alma e de amadurecimento.
Diga-se, de passagem, muitas dessas canções profanas são muito bem feitas, poeticamente bem elaboradas e são verdadeiras peças de literatura e de bom gosto. É, portanto, um erro gravíssimo e chega a ser pecado de calúnia contra os seus autores, qualquer cristão proclamar a canção profana como canção do demônio ou canção que não leva a Deus.
Mais da metade das canções profanas que eu já ouvi me levam ao próximo e a Deus. Eu louvo a Deus por todas as canções profanas que já escutei, mas agradeço também por ter me dado bom senso de não cantar determinadas canções profanas; é uma questão de escolha. E defendo e valorizo a canção não católica. Ela também vem de Deus. Nós não temos o monopólio da ternura!
Não sou padre porque canto.
Eu canto porque sou padre.
Se o povo pedir, eu cantarei.
Se não pedir, exercerei o meu sacerdócio de muitas outras maneiras.
Cantar não é tão importante quanto possa parecer.
Pe. Zezinho, scj (pezscj@uol.com.br)
www.padrezezinhoscj.com - Taubaté-SP